sábado, 1 de setembro de 2007

A Ultima

Meu Querido,

Escrevo-te esta carta como tantas outras que te escrevi durante este ano que passou, lentamente na tua ausência.

Hoje dei comigo a olhar o douro, e a não ver nada, senão água a correr bastante devagar e uns barcos de quando a quando, tão lentos como as águas. Sabes, meu caro, dei comigo a não ver nada mas a pensar em tudo, em ti sim, como sempre.

Sabes sinto-me cansada e basicamente esgotada de passarem sempre as mesmas ideias e recordações pela minha cabeça. Tu como centro, sempre, sempre, e eu a ver tudo de fora. Por muito que me custe dizer-te, e convencer-me a mim mesma também, sim eu sei que não significo nada aos teus olhos, e mesmo assim continuo a escrever-te. Enquanto olhava o nosso rio, meu querido, senti que nunca o fora, nosso pelo menos, seria meu apenas porque só eu lá vou para pensar em ti e como gostava que lá estivesses comigo. Deves estar a achar o tema desta carta estranho, e até me estranhas a mim, mas deixa-me acabar.

Eu sei que nunca te disse nada, eu sei que sempre esclareces-te tudo desde o principio e eu aceitei, meu querido, porque assim podia estar mais perto de ti, conhecer-te mesmo com as tuas duvidas e inseguranças, que como costumas dizer, só me confidencias a mim. Mas hoje, hoje sim, comecei a duvidar da tua sinceridade e dos meus sentimentos por ti. Serei mesmo eu a única que te ouve? E as outras com quem dormes esporádica e apaixonadamente? Podes dizer-me como consigo aguentar isto, assim, sozinha? E como não posso duvidar se isto é amor, ou uma estúpida obsessão pela tua maneira de ser? Não sei, querido, não sei nada. E foi a essa conclusão que cheguei hoje à tarde, quando o sol batia no rio e nas janelas da ribeira.

Lembrei-me daquela noite, em que bebeste demais, e estavas perfeito com os ânimos todos exaltados, e do nada me deste um beijo apaixonado, como se eu não fosse “apenas eu”, e me agarraste ali mesmo na rua. Sabes, que é nisso que penso sempre que passo naquele mesmo sitio, todos os dias a caminho de casa? E alias todos os dias desde esse dia, em todas as ocasiões? Eu penso que sabes. E que também reparaste nos meus olhos, quando no dia seguinte me disseste que não te lembravas de nada, sim querido, estava a chorar por dentro, e por fora queria mostrar-te que para mim também não tinha significado nada. Mas foi a noite mais feliz da minha vida, digo-te agora.

Meu querido, decidi no caminho de volta para casa que tenho de dar um novo rumo à minha vida, deixar de te amar desta maneira e voltar a ter descanso de alma. Por isso vou deixar de te escrever. Não precisas de me responder, não quero que me tentes com a tua adorável simpatia. Não quero que te culpes de nada, porque sei que ainda te amaria mais, se é que isso é possível. Não estou chateada contigo, o amor não me permite, mas preciso de um tempo de ti, consegues perceber-me? Como tantas vezes eu te percebi?!

Por favor cuida-te, e não deixes de te alimentar direito só porque eu não te relembrarei de comer fruta.

É um adeus, meu amor.

Cuidadosamente,

“ Benedita”

3 comentários:

code disse...

talvez cuidadosamente mudada essa Benedita...

code disse...

sim, percebo o que queres dizer com o espelho baço... todos nós somos diferentes e diferentes... diferentes dos outros e diferentes de nós próprios, temos facetas; sentimentos ou ideias que vão variando e que exploramos conforme nos apetece (ou não), não sendo elas que nos definem verdadeiramente (ou pelo menos cada uma delas).

eu também não sei o que dizer quanto ao meu outro comentário, porque simplesmente não há, nem dá, para dizer nada...

os meus amigos de que te falei são estes:
Roberto (Mega) - http://mega-rs.hi5.com
Diogo - http://diogu-gui11.hi5.com
foi lá que encontrei os links para a Joana.

sobre um sonho? parece que algo se passa com os sonhos :D... já és a quarta pessoa que "conheço" (pessoal aqui do blogspot) que fala sobre eles desde ontem ou anteontem...

Obrigado por partilhares os teus textos.
Abraço,
André.

code disse...

tenho um pequeno "desafio literário" para ti.

Achei muito engraçado por causa dos resultados completamente estranhos que se obtém, se quiseres passa lá no meu blog ;)

Abraço,
André.