quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

sinónimos teus

Sou a rainha do nada,
A duquesa de mão cheia de ausência,
E a plebe com o trapo da abstinência;
Sou o chão frio de azulejos mal pintados,
E a terra quente, seca e infrutífera;
Sou a bela fútil com quem sonhaste,
E o monstro horrendo em quem nem notaste;
Sou o ar molhado de chuva irritante,
E o fogo da tortura que te queima a cada instante;
Sou o cinzento no azul do céu,
E o preto no preto do breu;
Sou o cheiro a podre e a pobre,
E o perfume caríssimo que mal te encobre;
Sou o nada neste mesmo momento,
E tudo do tempo em que sentias comigo,
As ondas ao relento….

domingo, 2 de dezembro de 2007

A razão do serão

Sombras no chão, apelativamente cordiais,
Pretos e brancos, com castanhos sorriais,
Enchi o copo com que brindarás,
Espera, meu querido, sempre chegará.
Seriamente julgas-te senhor,
De todo o conhecimento e amor?
Estar à tua altura é onde não quero ficar,
Não quero estagnar.
Sentes o calor que sobe?
Sentes?
Aprecia o bom vinho que corre agora por ti,
Doce veneno, que com todo o gosto te servi
Sente, tal o ardor que me causavas no olhar,
Sente agora o amargo sabor da solidão,
Eterna, serena, sente-a porque corre por ti.
Sempre correu, só a quis intensificar
Cai, não te vou dar a mão,
Não me agarres, não supliques,
Não tenho dó de ti, espalha-te pelo chão,
Frio, impessoal e misterioso como tu.
Merecem-se.
Chora baixinho, insulta-me, grita.
Daqui a momentos, meu querido, ela chegará.
E tudo acabará.
Com sincero gosto meu.
Depois, vou sentar-me no teu cadeirão,
Vou esperar por ouvir o ultimo suspirar,
Vou beber do mesmo bom vinho,
E vou descansar. Voar. Respirar.