domingo, 20 de janeiro de 2008

Branco


Disse adeus e acenei. Adeus, esta simples palavra sem significado. Adeus. Tudo que queria dizer-te dissipou-se completamente na chuva. Acenei levemente com a mão por baixo do guarda-chuva e julgo que não viste. Adeus, nem sei se me ouviste. Queria tanto dizer-te para voltares. Ainda sonhei por algum tempo que ias virar as costas e dizer que decidias ficar. Que não conseguias passar por tudo sem mim. Mas não o fizeste. Não te vi chorar, nem tu a mim. Por isso só choro à chuva. Nunca me viste fazê-lo, mas sabes que choro. Adeus. E nem mais uma palavra, ou um olhar, ou um beijo. Queria ter forças para te demover dessa ideia de me deixares, que eu estou melhor sem ti. Não estou, e não o vês. Duvido sequer que penses no que vou ser sem ti. Não percebo porque foste, nem a razão. Já não sei o teu número, já não sei onde moras, já não onde estás. Não sei nada. Não sei com quem falas agora, nem quem és. Espero que não tenhas mudado. Espero que ainda sejas a mesma pessoa com quem sonho todas as noites. Tenho a certeza que és. Sonhar é tudo que me resta. Por vezes, até parece que te consigo cheirar. Lembro-me de ti todos os dias, seja por passar por uma pessoa com o mesmo perfume que te dei no outro natal, ou por sentir o cheiro do pão acabado de fazer, daquela padaria mesmo á frente do sitio onde nos conhecemos. Lembras-te? Estava toda ensopada e tu levaste-me para dentro, para aquecer. Lembro-me de ti, até em dias como este, chuvosos. Só te queria de volta. Só por um minuto, para matar esta saudade que me corroi aos poucos por dentro. Esta saudade que pensei que fosse passar com o tempo, e apenas piora a cada dia que passo sem ti. Só um minuto para apagar isto tudo que estou a sentir. Esta incapacidade de viver, sempre a pensar em ti. Volta. Agora que já esqueci o orgulho e posso dizer-te que não consigo ficar assim. Volta por favor. Queria tanto que me ouvisses, ou sentisses, ou que eu te sentisse. Saudade, saudade, incontrolável, um fosso profundo que cavas em mim, um vazio. Não consigo assim. Silêncio. Volta. Fecho os olhos e vejo-te entre luzinhas desfocadas. Estás a sorrir e parece que te consigo tocar. Estendes-me a mão convidativa. Sorrio e vou contigo, para o mundo dos sonhos. Para o nosso mundo. Sinto-me tão leve. Espero ficar sempre assim contigo. No branco. No mundo dos sonhos, a teu lado, a olhar para ti, sempre, sempre, eternamente.

sábado, 5 de janeiro de 2008

Noites de Luar


Sorri, meu querido, sorri. Reconheço-te assim a léguas entre um turbilhão de gente. Esquece o resto do mundo por favor, e vem comigo. Caminha até mim. Sabes que canto só para ti. Só tu. Sabe-te a chocolate derretido na lingua, eu sei. Canto para ti, para saberes que estou aqui para ti. Só para ti. Caminha na minha direcção, lentamente. Como quem pisa todo o mundo num só passo, e sorri. Não deixes de o fazer até chegares aqui. Não posso perder o contacto com a tua melhor emoção. Sorri e eu sei que sorris para mim. Calca o mundo pelo som que te cega os sentidos. Hipnotiza-te, eu sei. Sei tudo o que estás a sentir, mas vem. Vem, lentamente e sorri. Ouves o silêncio do mundo, e a sombra dos outros. Ouves a minha voz, só a minha voz. Sabe-te a noites de desejo, eu sei. Sei que ouves e pensas no que queres comigo quando chegares. Eu sei. Ouve com atenção o meu chamamento, e sorri. Pensa no teu melhor sonho, comigo. Sei que és quase capaz de sentir a tua pele na minha, a esta distância. Sentes o calor já, eu sei. Estás mais perto, ouve melhor. Ouve mais alto, o que canto para ti, para sorrires. Chega mais perto, mas não me toques. Pára de sorrir agora. Deixa-me sugar-te essa energia que te corre da emoção que te fiz conter. Não me toques. Podes sentir quase a corrente a passar por todo o teu corpo. Não me beijes. Já sei o sabor dos teus lábios. Sabem a chocolate derretido. Agora faço o que quero contigo. Ouves ainda o som da minha voz. Ecoa em ti, todas as maravilhas que te prometi. Não vou cumprir, meu querido. Serias menos tolo se ouvisses com atenção. Anda, aproxima-te mais agora. Deixa-me por a mão no teu ombro. Sentes? Eu sei que sim. Faz o que eu desejo de ti. Ouve, não olhes para mim. Ouve e obedece. Deixa-me trincar o teu pescoço.