Era uma vez a senhora que estava sempre a chorar. Chorava, chorava e chorava. Ninguém sabia porquê. Podiam ser muitas as causas da sua tristeza. Num conto infantil normal, atribuía a razão a uma questão moral qualquer. Num romance, atribuir-se-ia a razão a males do coração. Num policial, seria com certeza, por ter morto alguém quando era nova. Num drama, seria por ter distúrbios mentais. De qualquer modo, poderia dizer agora todos os tipos de historia que existem, e descobrir as razões do choro da senhora, de acordo com o mesmo. Demasiado clichê. Cada um pensará na razão do choro da senhora que está sempre a chorar, de acordo com as razões que fariam o próprio chorar.
domingo, 20 de julho de 2008
sexta-feira, 4 de julho de 2008
O prédio em frente
Gosto de estudar na varanda. Estou lá e parece que mais nada se mexe. As vozes das pessoas que passam parecem muito longe. Gosto de me distrair a pensar nas vidas por trás das janelinhas do prédio em frente ao meu. Gosto de imaginar as rotinas. Gosto de ver as pessoas a entrar ao fim do dia, e a empregada a entrar ao principio da tarde. Gosto de ouvir os aspiradores das donas de casa, e os bebes a chorar de vez em quando. Gosto de ouvir as brigas dos irmãos da janelinhas mesmo em frente à minha. Eles berram mesmo alto de vez em quando, parece que a rua acorda nessas alturas, e ouço melhor as pessoas na rua a falar. Gosto de apanhar essas pequenas conversas de rua, que geralmente são sobre uma ida ao médico, sobre o fornecedor que atrasou o pagamento, ou sobre o filho que se esqueceu de fazer os trabalhos de casa. Gosto de pensar na vida deles todos, até daquela senhora que é capaz de passar a tarde toda na sua janelinha, e penso que se calhar está a pensar o mesmo que eu. E até daquela senhora que passa a tarde em casa, e vai à varanda fumar o seu cigarro e dizer, durante um pedaço de tempo, olá ao mundo. Gosto de me imaginar a viver a vida deles, e de pensar como seria eu se eu morasse antes naquelas casas. Gosto de tentar perceber as figuras das rendas das cortinas. Gosto de pensar que têm vidas secretas todos, porque quando saem à rua parecem todos iguais. Gosto de imaginar os segredos que têm. Aquela senhora do cigarro, imagino que possa trair o marido enquanto ele trabalha, e a senhora da janela, deve esperar o marido ,vindo do trabalho, cheia de desejos. Gosto de pensar que a empregada de limpeza se põe descalça e com musica a limpar o chão cheia de alegria, sem os patrões saberem. Gosto de imaginar os segredos de todos, porque enquanto imagino, a imaginação não me trai nem me desilude. Gosto disso.
Assinar:
Postagens (Atom)