terça-feira, 17 de julho de 2007

Acordar

Acordei a pensar em ti. No teu cheiro. Nas tuas mãos. No teu sorriso. Nos teus olhos. No teu olhar. No teu antigo olhar. Será que estas noites nunca vão acabar? Estas noites que me deito a pensar em ti. Estas noites que sonho contigo, com o teu olhar, com o teu tocar, com o teu cheiro. Acordo e parece que ainda te sinto sobre a minha almofada e na minha cama, onde te deitaste tantas vezes. E eu ali contigo.
Acordo e sinto as lágrimas que já não choro levarem-me a ti. Como queria acordar outra vez como acordava. Sentir os teus olhos em mim. E olhar para ti e saber que não poderia estar em qualquer outro lugar senão a teu lado. Dói. Dói e não deixa de doer. Saber que apenas eu sinto tanto a tua falta. Que nada vai voltar atrás e não posso seguir o caminho mais fácil. Voltar para ti. E tu voltares para mim. Poder olhar-te, poder tocar-te, poder sentir a tua pele e todos os teus pequeninos defeitos. Continuas dentro de mim como sempre estiveste. Tu, ou aquele que amei. Aquele que amo. Aquela ilusão que me faz agarrar à tua memória e dizer que te quero. Mas o que foste não vai voltar. O que fomos não vai voltar. Continuo a olhar para ti como sempre, mas o teu olhar mudou. Continuo a querer tocar-te como sempre, mas o teu toque já não existe. Continuo a querer falar-te, mas já não respondes como eu esperava. Estás diferente. Quando falas já não dizes tudo o que eu quero ouvir. E tenho medo. Tenho medo de te perder. Tenho medo que te tornes num desconhecido. Tenho, principalmente, medo de nunca mais amar ninguém como te amei. E medo que tu não sintas nada do que estou a sentir.
Tudo parece tão fácil para ti. Eu grito e choro, e tu aceitas. Aceitas e continuas em frente. E eu continuo a acordar com a tua ilusão, e a adormecer com o teu cheiro cravado na minha cama, na minha almofada, em mim. E sonho, sonho que nada se passou, que continuamos inocentemente a amar-nos, a tocar-nos, a sentir.
Acordo, e mais uma vez não te sinto mais. Ficou a ilusão do teu beijo e o teu olhar transparente que me queima. E continuo a querer-te como sempre. As lágrimas caem, e arrependo-me das decisões que tomei. Mas estão tomadas. E um dia vou deixar de chorar. Um dia vou deixar de pensar. Vais deixar de estar dentro de mim. Deixar de estar cravado na minha pele, nos meus olhos, na minha alma, no meu coração.
E vou acordar e não estarás a meu lado.

3 comentários:

code disse...

antes de mais, obrigado pelo teu comentário. podem ser poucos os que comentam o teu blog mas não é por falta de talento da escritora. pelo menos na minha opinião, tens textos fantásticos e reflexões profundas e envolventes. porém, todos nós sabemos que nem sempre (ou quase nunca) "o melhor" é "o preferido" (pelo menos pela maior parte). espero que continues a colocar aqui os teus textos, e acima de tudo que continues a escrever com prazer. pelo menos um leitor atento aqui terás.

quanto ao post em si...

é complicado amar uma sombra, uma imagem... as perguntas que te inquietam neste post já as coloquei eu também. o pior era não ter as respostas, nem maneira de as obter. quando isso acontece temos de fazer novas perguntas e lentamente ir dando as respostas que já conhecíamos há muito, mas não tínhamos coragem para aceitar.
é complicado amar uma sombra, principalmente quando parece que já não é aquela que nos acompanhou, aquela que tínhamos como confidente, e aquela com quem contávamos como única companhia na árdua caminhada que todos enfrentamos.
é complicado amar uma sombra, principalmente quando tudo parece que fica escuro à nossa volta e a sombra se dispersa e esconde de tal modo que nem a luz da Lua a consegue encontrar.
é complicado amar uma sombra, porque apenas pensamos que ela está perto, na realidade, por mais que tentemos não lhe conseguimos tocar, ela não nos responde, não nos ouve, nem retribui o que quer que seja. uma sombra acompanha-nos, mas ignora-nos, muda de forma até nos ser irreconhecível, às vezes desaparece quando mais precisamos dela...

sabes... é complicado amar uma sombra...

abraço,
andré.

code disse...

no teu último comentário no meu blog, disseste uma frase chave para mim (ainda só li uma vez... os bons textos e as reflexões profundas diferenciam-se dos outros em mim por causa disso, os maus leio na diagonal, os médios normalmente, os bons leio todas as palavras várias vezes, os excepcionais leio as ideias (palavras e espaços, cada fala e cada silêncio), como tou a ficar habituado a textos excepcionais vindos de ti, no mínimo terei de ler várias vezes xD, porém acho que à 1:50 da manhã mais vale responder logo e depois se necessário colocou mais alguma coisa).

Após isto tudo... tava a falar da frase não é? ora foi esta:

"sabes eu achei mais complicado ama-la porque nao sabia quando a deixar de amar.."

é realmente essa a questão central, até que ponto sabemos que não nos iremos arrepender de seguir outro caminho? qual a altura? qual a gota que estamos à espera? qual é a altura em que se fecha a última janela de esperança? quando é que o sofrimento de ficar já não compensa os remorsos de sair?

eu vivi uma situação extrema a esse nível, foi um ano inteiro de total dúvida, indecisão e impotência perante as circunstâncias...

dúvidas que me atormentavam (e porque não ser sincero e falar ao de leve no presente?) continuamente... são opções que se vão condicionando, planos que se alteram... e no final parece que afinal não "valeu a pena", ou valeu mas de uma forma alternativa, cresci imenso, principalmente a nível emocional.

"abandonar" a sombra, é despedirmo-nos de uma parte de nós próprios, é um daqueles momentos que ficará marcado para sempre em nós, talvez a memória se esqueça, mas ficará gravado também na nossa personalidade, porque é disto (e do que aprendemos ou não com cada decisão) que é composto o que nos define. uma decisão destas, não deve ser momentânea (pelo menos eu não conseguía "desligar" pessoas assim da minha vida), no meu caso é algo muito lento e gradual, o que na música se chama um "Fade Out"...

mas sabes... a maior parte dos "Fade Out" têm o correspondente "Fade In" na música seguinte, na nova fase de que falas... na independência (será mesmo? ou seremos talvez mais independentes ainda com uma "sombra-brilhante" bem verdadeira ao lado?). E quanto a essa nova fase, cada um a encara à sua maneira, ou talvez não... talvez essa fase já seja demasiadamente uma simples consequência do que foi a anterior. Talvez não hajam maneiras de reagir, mas apenas formas de agir.

uma sombra é uma sombra porque há luz, mesmo que fraca... esse mudar de página que falas, é enfrentar a noite com a esperança que o dia de amanhã seja de Sol.
O Verão deste ano foi fraquinho... mas gosto de sentir e respirar a chuva.

por isso acredito... e olho para a frente, porque se estiver sempre a olhar para trás, não sei para onde vou.

2:32 AM
Abraço,
André.

code disse...

eu sei que não disseste que é um "plim e já não há sombra"... no meu comentário eu fui criando hipóteses não estava a falar da tua situação, porque mesmo que quisesse não podia pois não conheço, conheço a minha e é só sobre isso que posso escrever, o resto são apenas outras opções abstractas... talvez demasiado até.

Fase de recuperação? sim, principalmente porque nada ficou definido... é algo complicado, mas acho que está a ficar finalmente ultrapassado, mas penso que o sentimento não se alterará.

não te elogiar? o tempo que eu perco? coitadinho? pela primeira vez leio algo teu que não me parece fazer sentido... não te elogio ou escrevo comentários grandes porque queres, mas porque adoro a maneira como escreves, a maneira como interpretas cada situação, a forma como transmites as tuas emoções em texto, a forma como pensas, e porque me identifico com muita coisa daquilo que escreves. acho que isso não faz de mim um coitadinho, pois tem sido um prazer trocar perspectivas contigo e perceber a maneira como "vês".

como é que conheci o teu blog? olha num lugar que pouco esperaria encontrar... desde há mais de 2 anos que recebo convites dos meus amigos para me juntar ao Hi5, nunca gostei da forma como aquilo é normalmente usado.
No entanto, a semana passada fartei-me de receber esses emails de convite e como me falaram de uma conta de artista onde poderia (pois na realidade não consigo) colocar música minha e divulgar um dos meus passatempos (um pouco como eu tenho no myspace), resolvi aceitar.
Estava a tentar conhecer aquilo, navegando pelas listas de amigos e como uma das tuas amigas (Joana) é amiga de dois grandes amigos meus (Mega e Diogo) acabei por encontrar o teu hi5 e nele o link do blogspot. Como adoro ler, fui logo ver o blog e fiquei surpreendido com o conteúdo, o resto já sabes.

Não é lá um comentário muito inspirado, mas espero que pelo menos tenha sido informativo xD
Abraço,
André.