Querer tudo e ser resumida a nada. Feita em pó varrido para debaixo de um qualquer tapete. Despedaçada por uma mão fraca e sem jeito para me partir, como se fosse um pedaço de metal frio e impessoal. Como se fosse um fantasma do que fui e sou. Como se não valesse a vida que tenho. Como se nem existisse e os meus actos não significassem nada. Sou livre para fazer o que quero, mas não sei o quero fazer agora que o sou. A indecisão do sentimento e a razão bem definida. Não quero ser correcta nem muito menos educada agora. Quero dizer o que me faz sentir assim. Mandar embora este sentimento hediondo que me afoga o coração em cordas apertadas. Suponho que o que me faz sentir assim não seja a profundidade dos sentimentos mas a superficialidade dos actos. Já estava preparada para isto mas assim não consigo. Não posso dizer que não senti. Senti e tenho pena, pensei que fossem menos profundos do que isto, mas enganei-me. Sinto-me desiludida com o mundo e sem vontade de acreditar nas pessoas. Uma enorme sensação de que tudo se resume á igualdade e á banalidade do desconhecido que passa por mim numa rua clara até a ti que me beijas no escuro. O mundo lá fora continua a correr como se a vida de cada um não importasse. Parece querer privar-me de sentir. Sou resistente eu sei, mas não para sempre. Preciso de descansar e de me abstrair disto tudo que me rodeia. Não posso dizer que me arrependo do que fiz, sei que o fiz porque queria e me fez bem na altura. Mas não repetiria, porque não vale a pena. Não vale a pena sentir para depois ter que esquecer. Não vale a pena tentar para logo a seguir desistir. Nada vale a pena. Só este cigarro que fumo sozinha e os meus pensamentos. Parar. Tudo parou ou pelo menos parece que parou. Apenas ouço um pequeno ruído de fundo que parece ser música enquanto escrevo e tudo no seu devido sitio. Menos eu. Está tudo parado e se calhar é aqui mesmo que devo estar, parada também. Nem este pulso que escreve devia mexer. Vou parar. Vou fundir-me com o silêncio assustador deste lugar e parar. Parar de escrever. De pensar. De sentir. De viver.
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