Fica só mais um segundo. Apenas para permanecer sempre comigo o teu cheiro a verão doce. Deixa-o aquecer-me na fria penumbra das noites solitárias.
Fica só mais um minuto. Permite-me o teu olhar e a magia real dele em mim. Olha-me por este fragmento de tempo insignificante, sei que guardarei no meu próprio olhar os teus olhos castanhos, para reconstruir o teu fantasma perfeito depois da hora de partida.
Fica só mais uma hora. Uma pequena hora para te falar dos planos que tinha para nós. Fala comigo também, não quero correr o risco de me esquecer do som da tua voz. Tenho medo de ficar rodeada por apenas um silêncio profundo, para me acompanhar os dias claros e abafados, sem a tua leve brisa com sabor a frescura.
Fica muito mais tempo. Fica porque te peço. Tenho que sentir as tuas mãos rugosas e fortes para me sentir em mim. Preciso dos teus beijos que me fazem render a ti sem qualquer desconfiança.
Penso isto tudo mas quando te observo a descer por essas escadas limito-me a respirar. Olhas-me e caminhas agora na minha direcção. Eu permaneço estática, incapaz de mover um único músculo do meu corpo para te impedir de fazer o que é agora inevitável. Fico assim, presa nos teus olhos e na expectativa dos teus actos. Estás próximo o suficiente para me deixar guardar o teu aroma de fruta e calor. Agarras agora as minhas mãos e sinto tudo mover-se com uma extrema lentidão. As tuas mãos. Ouço-te falar mas pareces-me demasiado longínquo para te perceber. Percebo agora.
- Vou agora, Lídia.
Tudo que te quero dizer passa pela minha cabeça como um relâmpago em céu escuro. Aproximo-me ainda mais de ti e tudo se resume a um sussurro ao teu ouvido.
- Fica comigo só mais uma noite.
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