Inércias desesperadas de um tempo que pára quando é necessário que passe. Uma página que não vira mesmo pela violência frustrada da minha mão. Um beijo que roda na cabeça de alguém demasiado cego da estupidez amorosa que o faz deixar de raciocinar com a clareza dos vividos. Uma lembrança marcada nos passos do presente que traça um caminho com falhas e um futuro com quedas. Palavras sem sentido, ditas pelo homem do lado, apenas da boca para fora, cuspidas das suas entranhas, sem sentido como o silencio que o rodeia. Um mundo irreal que roda monotonamente, sempre, sempre, mesmo que tudo nele pareça parado. Tudo na sua normalidade irritante, reconfortante para uns, e extremamente enfadonha para mim. Uma banalidade assustadora que corre pelos meus olhos todos os dias. A não novidade de uma vida vivida á espera de algo que não acontece. Algo que não sustenta o ar que respiro, mas que dá a esperança errada suficiente para continuar a acreditar. Farta de saber que ela acaba antes da morte, e viver uma vida sem cor é possível mesmo para o mais estúpido apaixonado. Filmes e poemas de amores impossíveis, e novidades diárias, e descobertas brilhantes e um mundo de hipóteses, que não existe. Tudo é falso. Restam-me pelo menos algumas certezas de amor amigável de alguns, e as incertezas dos que se aproximam, e pouco mais, que podem sustentar a minha ilusão durante mais uns tempos. A incerteza ainda se apodera de mim, mas serei felizmente acordada desta inércia ridícula, amanha, quando o sol raiar no horizonte, e o mundo rodar na sua rotina, saberei que afinal tudo não passou de um momento que passou muito lentamente, mas não parou. Afinal tudo se movimenta, lentamente, felizmente.